sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sou um católico fundamentalista mortinho por apedrejar a Fernanda Cância mas, merda!, não encontro passagem alguma no Deuteronómio que o justifique.


Não sou nada, Nanda, estou a brincar, não sinto mais vontade de apedrejá-la do que ao Manuel Luís Goucha ou aos relatos de futebol de domingo à tarde. Inclusive, quando li a sua peça no DN sobre a mulher apedrejada no Sudão, dei comigo a concordar ipsis verbis, e como não, com tudo o que a menina lá dizia. Ai, Nanda, o problema da minha amiga é que, sempre que diz duas coisas certas, pimba, entusiasma-se, pisa no prego e espeta-se na primeira curva. E a culpa é sempre dos malvados dos católicos. Suponho que a menina foi maltratada numa escola de freiras, daquelas com ar de agentes da Gestapo e grandes bigodes, dos filmes, que as reais não existem, que a obrigariam a recitar o Credo, credo, de joelhos sobre as lajes frias do convento. Mas, que diabo, não insista, que parece mal. Estamos no século XXI, Nanda. Os católicos são o bombo da festa dos media. Os bispos já não falam com sotaque de Sernancelhe, só o Jorge Coelho, e denunciam os abusos do capitalismo. As contas do Santuário de Fátima são publicadas e as joelhadas desaconselhadas no recinto. Os padres anónimos da província fundam e mantêm IPSS que permitem cuidar dos esquecidos do mundo, abrilhantando as estatísticas de camas do governo. Os erros do passado, como a Nanda bem diz, são objecto de pedido de desculpas do Papa. Os desvios para a pedofilia de padres e bispos que não aguentam o peso do celibato e pecam gravemente são investigados pela hierarquia, afastando-se os pastores das ovelhas. E sobretudo, nem o mais humilde pastor de uma aldeia recôndita de Trás-os-Montes se lembraria de fazer interpretações literais da Bíblia. Está lá escrito que Deus promete aniquilar sanguinariamente os inimigos do povo judeu, sim, e os nossos predecessores monoteístas assim o faziam, mas ninguém se lembra hoje de interpretar aquilo à letra, com excepção do coronel do «Jubiabá», salvo erro, do Jorge Amado, que consultava o Antigo Testamento em busca de justificação divina para cilindrar o coronel adjacente. Com excepção do coronel, e da menina.
Deixe-se disso. Aceite lá o facto de estarmos do outro lado da barricada em questões de vida ou de morte, como o aborto, frontalmente, sem hipocrisias. Mas meta a mão na consciência, que não é preciso ser crente para o fazer, e reconheça no seu íntimo que a má fé, o insulto gratuito, o golpezinho baixo nas múltiplas tribunas de que têm o quase exclusivo, vem hoje em dia mais da parte do seu lado e de pessoas como a Nanda, que frequentemente mandam a seriedade intelectual às urtigas em nome duma auto-vitimização que precisa da Igreja como papão, num impulso freudiano de afirmação pela negação.
Nanda, meta uma coisa na cabeça. Com excepção duns meninos da Opus Dei que eu confesso não ter muita certeza de serem católicos, a malta aqui já não é o que era. Sobretudo, não temos poder. O que, bem vistas as coisas, está de acordo com o que nos manda o Filho do Patrão.
E olhe, para acabar, porque eu sou como a Nanda, quando digo umas coisas de jeito, tenho logo que estragar tudo, deixe-me dar-lhe um conselho que reputará de paternalista. Leia o Daniel Oliveira. Está nos meus antípodas, como imagina, mas pensa nas coisas, não destila ódio, e respeita as convicções dos outros, mesmo quando as contesta.

"Perdoai-lhes, porque não sabem o que dizem"

Percebemos, pelo último texto da jornalista Fernanda Câncio, que a mesma é versada em assuntos bíblicos. Pena que, na exegese do texto Sagrado, não tenha reparado no episódio da mulher adúltera. Uma pequena lacuna a juntar a outras, como seja a incapacidade para compreender o mistério do Amor contido na mensagem de Cristo.

menino prodígio (pelos vistos, não é preciso pagar-lhe...)

Fenómeno - José Sócrates acompanhou com três anos de idade as presidenciais norte-americanas

Bebés assim só em Vilar de Maçada

As palavras são do primeiro-ministro José Sócrates na extensa entrevista que concedeu no último fim-de-semana: "Sou, digamos assim, da geração Kennedy. Essa eleição representou já um momento histórico. Lembro-me do debate que houve na América quando, pela primeira vez, um católico se candidatou a presidente. O próprio Kennedy teve de vincar bem que nunca receberia ordens do Papa enquanto presidente dos EUA. Lembro-me bem do que isso significou." 

Nos meios socialistas e não só estas palavras causaram espanto ou perplexidade. O caso não é para menos: se a biografia oficial está correcta, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa nasceu no dia 6 de Setembro de 1957 em Vilar de Maçada, concelho de Alijó, distrito de Vila Real. E John F. Kennedy foi eleito presidente dos EUA em Novembro de 1960, com uma vantagem de 112 881 votos sobre o republicano Richard Nixon. Isto é, nesse tempo José Sócrates tinha três anos de idade. Perante estes factos, há quem entenda que o primeiro-minitro é um sobredotado. Mas há quem tenha outra explicação para este facto extraordinário. A certidão de nascimento pode ter sido adulterada por alguém ou o registo ter sido feito mais tarde e Sócrates ser mais velho do que pensa. (Correio da Manhã)

sim, mas (2)

Ainda a propósito do texto que o Rui menciona no post aqui em baixo: gostava de saber por que livro da matança, por que Deus, por que religião se rege esta acérrima defensora do aborto.

Lá está, é como diz o Rui, há sempre um mas, estilo "não se devem matar pessoas mas no aborto é diferente...blábláblá".

sim, mas

"(...) Não é por acaso que nunca se ouviu o papa pedir desculpa às mulheres, em nome da instituição que representa, pela perseguição, tortura e morte de "bruxas", adúlteras, mães solteiras, todas as que tiveram o azar de irritar os santos homens e a sua ideia de santa mulher. Há muçulmanos boas pessoas, em horror ante Kismayu? Claro. Há católicos que não se reconhecem no Deuteronómio. Mas, vistos do Deuteronómio e da sua infinita crueldade, são infiéis como os outros." (Fernanda Câncio)
A propósito de um acto inqualificável, praticado por fundamentalistas islâmicos, entende por bem a Fernanda Câncio chamar à colação a Igreja Católica, dando a entender que são todos farinha do mesmo saco. Desta forma, não só desvaloriza o acto em si, como ainda consegue marcar mais uns pontos na sua cruzada anti-ICAR. De certa forma, faz lembrar todos aqueles que, em reacção a um qualquer ataque anti-semita ou praticado por uma qualquer ETA, criticam, terminando, porém, as suas frases com um bem audível MAS. Santa ignorância.

last minute

Last night’s Barack Obama infomercial was a typically high-quality, well produced Obama product. There wasn’t much in it that was audacious but it sold the Obama message effectively and made him appear a safe choice. But this morning, spirits will have been raised in the McCain camp by a new poll which shows him within four points in Pennsylvania, a blue state that McCain now probably has to win to get to 270.

This is the first bit of good polling news the McCain campaign has had in a while. However, the other polling numbers out today are really grim for McCain—he is even trailing in North Carolina and another poll has him down by double-digits in the Keystone state. Obama remains the overwhelming favourite to be elected president on November 4th but there is a glimmer of hope for McCain today in this poll. (Spectator)

batatoon

Quanto é que estes senhores estarão a pagar ao primeiro ministro, sr. Sócrates, para fazer de palhaço?

bom apetite

Anda para aí uma grande discussão sobre o papel dos animaizinhos na nossa sociedade. Confesso que não percebo. Cá para mim, é evidente a sua utilidade: no prato, de preferência com a tripa de fora.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Cada macaco no seu galho

Imagino que os pais dos alunos do Colégio São João de Brito agradeçam esta esclarecida decisão.
Quando a procura é maior que a oferta, tem que haver critérios de entrada. Consta que os deste colégio são bastante rigorosos. Graças a Deus.

A Revolução dos Cravas



Eu não queria acreditar. O General Loureiro dos Santos, ex-ministro da Defesa, ex-Chefe de estado-Maior do Exército, ex-Vice-Estado Maior General das Forças Armadas, e sempre, sempre comentador televisivo-radiofónico-jornalístico-estratégico, vem alertar-nos em tom sibilino, assim ao jeito de «eu não penso nada assim, mas não sei se os consigo sigurar», para os «disparates» que alguns «jovens militares mais corajosos e intrépidos», embora «menos avisados», podem cometer em face do «desespero» - D-E-S-E-S-P-E-R-O , pois! - da perda de regalias, nomeadamente assistência na doença, face ao resto da função pública, com que não se querem confundir, leia-se juízes. E ainda, numa abordagem que não esconde - ou não fossem a condição militar e a subtileza duas condições incompatíveis - a sua identificação com a causa, acrescenta o generalíssimo, quase franco, mas sem se comprometer em demasia, que podem acontecer, e cito de memória (sigam o link para perceberem que não exagero, ouvindo-o de viva voz), «coisas incompatíveis com uma democracia avançada». Finalmente, e ao longo da manhã, numa sequência que não foi seguramente concertada, digo eu que sou o duende preferido do Pai Natal, aparece mais um general, mais um almirante, mais um sindicalista dos oficiais, mais outro dos sargentos, e mais um dos praças, a corroborar as afirmações do general.

Desespero?!?

Tenha vergonha, Sr. General, e tento na língua. Não ofenda quem está de facto desesperado, e não tem a força das armas por detrás para se fazer ouvir. E se se quiser pronunciar com toda a força dos seus amigos pretorianos, pronuncie-se contra a corrupção, contra o desgoverno deste país, contra os problemas da arraia-miúda, mas não contra a perda de regalias na assistência à doença duma classe que é de facto diferente das outras, mas nem sempre pelos bons motivos, e que goza seguramente de um grande lote de privilégios. Tenha dignidade, que é o que é suposto associar aos militares, e não se chore. Sobretudo, não nos ameace. Use os canais próprios, nem que sejam as suas tribunas na televisão, na rádio e nos jornais. Não ponha na boca de «jovens oficiais corajosos e intrépidos» - ah, repito, como o Sr. General é incapaz de subtilezas de discurso - o que lhe apetece dizer. Isto, apesar de tudo, apesar da podridão campeante, é uma democracia, onde quem tem uma fisga não tem mais voz do que quem está de mãos vazias. Tenha juízo. E não diga disparates.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Refutação da lógica apofântica

É claro que isto não quer dizer absolutamente nada sobre o desempenho dos professores das escolas públicas, ou pelo menos não tão absolutamente como a fina ironia do Rodrigo quer fazer crer. E não quer porque, para podermos extrair algum sentido dos rankings que anualmente são conhecidos, temos que valorar os critérios com base nos quais são elaborados e afastar elementos perturbadores do logicismo com que o Rodrigo aborda a questão. Por isso, sem tempo para me alongar sobre o assunto, deixo apenas inscritas duas notas que talvez permitam relativizar os números. Em primeiro lugar, se o elemento determinante dos referidos rankings é a classificação dos alunos, não é despiciendo pensar que as Escolas Privadas podem, com apelo a múltiplos critérios, seleccionar o seu público, facto que se comprova, enquanto as Escolas Públicas se vêem confrontadas com todo o tipo de alunos, com preparações díspares e motivações também variadas. Em segundo lugar, o êxito alcançado – que não se desmerece – nunca pode ser o resultado determinístico da actuação dos docentes, já que estes não são peças isoladas, mas parte integrante de um sistema que, cultivando, contra a sua vontade, o paternalismo e o facilitismo, os coarcta no desempenho da sua missão. Pelo que, se calhar, a manifestação, a haver, deverá ser contra a política educativa deste país.

Ainda os animais

O que os defensores dos bicharocos não entendem é que, ontológica e axiologicamente, há, de facto, diferenças incontornáveis entre o Homem e os animais. E que isso é bastante para, no plano jurídico, não ser possível a consagração de direitos dos seres irracionais que não sejam entendidos como direitos dos homens sobre aqueles, mesmo que conformados, no seu conteúdo, por deveres, já porque o Direito não é pensável sem o pressuposto antropológico da sua emergência, já porque ele veria o seu conteúdo reduzido a mera forma se prescindisse da simetria entre direitos e responsabilidade.
Ora isto, que muitos podem considerar pura fundamentação teórica, assume relevo prático de maior, permitindo justificar o sacrifício das espécies irracionais para satisfação das necessidades, físicas, culturais e científicas da Pessoa.
Podem, assim, contestar as declarações de Paulo Rangel, podem inscrever, como já fizeram, numa não vinculante declaração dos direitos dos animais que quem matar vários animaizinhos da mesma espécie comete um crime de genocídio, podem agitar cartazes contra as touradas ou os selvagens que se deliciam com um bom bife de vaca, mas jamais conseguirão sustentar as suas pretensões na ordenação do justo que nos rege.

Umas bestas



Para a associação Animal estas declarações de Paulo Rangel revelam uma visão "pré-científica e racionalmente oca dos animais e da importância que têm":

- “Não faz sentido haver um Dia do Cão.”
- “Também não [faz sentido haver um Dia dos Animais]”.
- “Um cão nunca deixa de ser um cão. Trocaria a vida do meu cão pela vida de qualquer pessoa em qualquer lado do mundo, mesmo não a conhecendo. Uma pessoa vale sempre mais do que um animal.”
- “Os animais merecem protecção mas não são titulares de direitos.”
- “Não são eles que têm esse direito [de ser bem tratados e protegidos]. Nós é que temos essa obrigação.”
- “Para mim essa é uma concepção errada [a de que os animais devem ter direitos]. Acho que só as pessoas devem ser titulares de direitos.”
- “Os animais [também sofrem], mas não sofrem como nós.”
- “A caça ou as touradas, enquanto tradições com determinadas características e determinados limites, são toleráveis. Fazem parte da Cultura.”
- “Muitas tradições não acabaram e estas [caça e touradas] são daquelas que para mim não devem acabar.”
- “Faço uma separação ontológica entre as pessoas e os animais.”
- “Num contexto cultural devidamente integrado, certas tradições [como a caça e as touradas] – ainda que possam chocar algumas pessoas – são admissíveis. É a minha posição.”
- “Não sou contra [a exibição de touradas na RTP].”
- “Desde que devidamente contextualizado [a transmissão de touradas pela RTP, televisão do Estado, expondo as crianças à violência contra os animais], não vejo nisso qualquer problema.”
- “A menos que esteja em causa a extinção de espécies, não acho mal [utilização de peles para confecção de vestuário].”
- “A dignidade humana é um valor superior ao da dignidade dos animais. O Homem é ontologicamente diferente dos restantes animais.”


Estes rapazes, que se empenham em demonstrar que comer carne é moralmente errado, querem promover a adopção de um código de protecção dos animais "corajoso, moderno e justo" que prevê, entre outras coisas igualmente corajosas, modernas e justas (há quem lhes chame delirantes), a pena de prisão para quem "organizar, participar, realizar, apoiar ou encobrir, em qualquer circunstância ou por qualquer modo" espectáculos circences, corridas de cães, rodeos, carrosséis, raides equestres, corridas de toiros e para quem use fêmeas em estado de gestação ou lactação, animais excessivamente jovens ou idosos em espectáculos, competições, concursos, exibições, exposições, divertimentos públicos, publicidade ou manifestações similares...

Era só o que nos faltava termos que aturar as excrescências do totalitarismo vegetariano!

São uns fanáticos. E, como quase todos os fanáticos, umas bestas. Sem desprimor para os animais.

SEDES

A SEDES tem um blogue. Deixo parte do 1.º post do Luís Campos e Cunha:
"Se os grandes projectos públicos (GPP) previstos eram de mais que duvidosa rentabilidade, com a crise financeira internacional (e portanto também nacional) estes deveriam ser revistos: uns para cancelar definitivamente; outros para adiar; e alguns para realizar. Avançar cegamente pode secar o crédito ao resto da economia, famílias e empresas, propiciando ainda mais dificuldades."

A vitória do relativismo

Estamos a viver tempos difíceis e, com toda a probabilidade, vamos sentir a necessidade de mudar de paradigma. E será assim, segundo penso, nas mais diversas áreas de análise (económica, financeira, social ou política). Vem esta consideração a propósito do último acto eleitoral, nos Açores. O PS reclamou vitória, o que só se aceitará em vista de ter sido o partido mais votado. O PSD, na sua já crónica ininteligibilidade, disse qualquer coisa que não merece reprodução. O CDS, por sua vez, mostrou-se satisfeitíssimo com os resultados. Ora, um exame mais detido desses mesmos resultados, no que respeita ao CDS, sugere outras cautelas e, eventualmente, uma profunda reflexão. É certo que o CDS aumentou o número de eleitos e bateu as várias sondagens que não lhe davam mais do que uma sofrida irrelevância. Mas chegará isto para cantar vitória? Estará o CDS, o meu partido, o partido dos valores, refém deste medíocre relativismo aritmético? Relativamente às últimas eleições regionais em que nos batemos com listas próprias, alguém se terá dado conta de que perdemos qualquer coisa como 20% do nosso eleitorado? E irá alguém procurar a razão de termos perdido, no maior círculo da Região, S. Miguel, metade dos nossos eleitores? Alguém, em consciência, consegue ver nisto uma refrescante vitória?
Com bitolas deste jaez, qualquer dia, ainda nos sentimos na obrigação de felicitar o aluno que, apesar de ter chumbado, foi o terceiro melhor da turma.

valor acrescentado

"(...) na manhã em que saiu a notícia do Diário Económico sobre alterações à Lei de Financiamento dos Partidos por via da proposta de Orçamento do Estado, José Sócrates terá contactado o director deste jornal "desmentindo pessoalmente a notícia"
Ainda de acordo com o “Expresso”, José Sócrates terá mais tarde, nesse mesmo dia, reconhecido, "mais uma vez por telefone, que o jornal tinha razão" (...) - Público
Estou-me nas tintas para quem o sr. Sócrates telefona ou deixar de telefonar. A única coisa que verdadeiramente me preocupa nesta história é saber quem é que anda a pagar essas chamadas telefónicas. Era o que faltava que fossem os contribuintes a ter de suportar os "namoros" que o nosso primeiro vai tendo com os jornalistas.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O circo de Dezembro

Se há coisas que Dezembro nos traz é a magia do circo. Há toda uma indústria, especializadíssima, ao serviço do sonho e da diversão, sobretudo das crianças. Mas há também estafados promotores que, a par de malabarismos de ocasião, arrancam, quando menos se espera, um coelho da cartola. Mesmo que o coelho seja um cágado e a cartola um balde. Mas lá esforçados são e, ano após ano, montam a tenda e anunciam, com sorriso rasgado e prenhe de uma confiança talvez excessiva, o melhor e mais improvável espectáculo do mundo e arredores. Com artistas inéditos e números de verdadeiro assombro. Já com a barraca desmontada, lá choram a ingratidão do público, ignorando que nem os palhaços eram diferentes nem os números improváveis ou mais aprimorados. Mas claro que, ano após ano, se anuncia que haverá um ano em que tudo será diferente. Melhor. Muito melhor. Esse ano, claro está, é sempre este. E, ano após ano, prometem-se mulheres barbadas e pulguinhas amestradas. Mas este ano é que vai ser, amigos. Vão ver. Até porque, este ano, as pulguinhas terão o tamanho de elefantes.

a culpa é, obviamente, da crise internacional

Portugal desceu para o 14º lugar, entre os 27 Estados-membros da União Europeia (UE), do ranking de 2008 do Fórum Económico Mundial para a Estratégia de Lisboa, tendo baixado uma posição numa lista que agora é liderada pela Suécia. (FC)

a minha mulher também gostava de poder redecorar a casa todos os anos

Paulo Portas quer "arrumar a casa e renovar quadros" no CDS-PP antes do próximo ano eleitoral e é com base nesse projecto que justificou o anúncio feito hoje de antecipação das eleições directas para Dezembro no partido. Portas volta a candidatar-se à liderança. (Público)

começar bem a semana

a saber o que se vai passando por aí, depois do fim-de-semana ter acabado em beleza.

Já cheira a Natal


Este ano, temo pelo Natal. As condições adversas dos mercados retraíram a procura. As grandes instituições de crédito estarão mais ocupadas em salvar-se a si mesmas do que em dar-nos o brilho costumeiro de um quadra que nos venderam como sendo mágica. Será Lisboa, este ano, o palco da maior árvore de Natal da Europa?

Apesar dos pesares, folguei saber que, nas Amoreiras, o Natal já começou. A minha filha sabe que o Natal é quando um homem quiser, mas teve dificuldade em perceber, do alto dos seus 6 anos, que, ainda assim, estávamos a mais de 60 dias do dito. Este ano, temo pelo Natal. Pelo Natal-dos-três-meses que nos vêm vendendo. Se calhar, este ano, como menos luzes, com menos barulho, com menos folclore, talvez consigamos ver o Menino Jesus. Mas só lá para Dezembro.

CDS

"O CDS não cuida dos seus maiores, nem rega a sua árvore genealógica. Recusou o centrismo de Freitas do Amaral, desautorizou o institucionalismo que Adriano Moreira nem teve tempo para fixar na mira, desprezou o neoliberalismo de Lucas Pires, para - sempre empurrado pelos ventos eleitorais - vir aterrar nas mãos de Manuel Monteiro e Paulo Portas. Este acabaria por escorraçar aquele, em espasmos intestinais onde, vistos os factos de fora, a ideologia não meteu prego nem estopa. Nenhum dos idos é saudoso nessa casa da Família Adams sita no Largo do Caldas.Monteiro, desabrigado, encetou uma aventura pessoal de contornos difíceis de prever e impossíveis de descrever: após sucessivos desaires (que culminaram nas autárquicas de Lisboa), anunciara recentemente a disponibilidade da sua Nova Democracia para desaparecer, a bem de uma qualquer inovação da direita para 2009, mas a aplicação de duas multas pela Comissão Nacional de Eleições deu-lhe agora o pretexto dourado para reconverter esse horizonte cinzento numa odisseia em technicolor - e, por isso, anunciou, esta semana, que não paga as multas e que o PND está pronto para o martirológio da extinção, mas não pactuará com a infâmia da perseguição que lhe é movida. Como o regime é pachola e esmoler por temperamento, ninguém comentou a proclamação e o PND já se pode ir embora, não na prosa em sépia do rabo entre as pernas a que parecia condenado, mas na grandeza trágica do suicídio de Antero. E assim Monteiro (e mais uns poucos) se poderá libertar do colete de forças que vestiu e disponibilizar-se para a primeira aventura fraccionista que o PSD gerar ou consentir. Ganho o partido - que se tornou PP, mas parece já ter voltado a responder ao petit nom de CDS - Paulo Portas conseguiu tirar Marcelo Rebelo de Sousa do caminho e chegar ao Governo pela mão de Durão Barroso. Depois, nas circunstâncias que estão na memória de todos, este abalaria para Bruxelas, deixando Santana no lugar. A solução parece ter repugnado a alguns quadros laranjas, que enjeitaram continuar, mas não ao CDS, que - porque só vive para isso - viria a partilhar a derrocada eleitoral do PSD. Portas demite-se, num fragor que seria depois plagiado por Putin e Medvedev. Mas, como o delfim Telmo Correia perdeu o Congresso para um Ribeiro e Castro desarmado, ele volta, sem dar tempo a um nojo convincente, defenestra os democratas-cristãos e, novamente presidente, senta-se no Parlamento (onde, juntamente com a presença de Santana, como líder da bancada laranja, proporcionaria a Sócrates viver alguns dos mais enlevados momentos da sua vida política). Assim reconquistava o partido o direito a, em cada momento, livremente se escolher no catálogo das ideologias. Tornou-se então populista e liberal-conservador. Tudo, portanto, menos democrata-cristão. O que traz consigo uma perigosa curiosidade. É que o sufoco estratégico do CDS perante o PSD resulta precisamente da justaposição ideológica entre eles. Ambos têm uma componente conservadora, outra liberal, outra populista. O PSD tem a mais alguma - escassa - social-democracia, o CDS tinha a mais alguma democracia-cristã. Ao abdicar dela, o pequeno grupo de amigos que constituem o seu estado-maior renuncia à única e última diferenciação tangível no inevitável cotejo com o PSD. A Conferência Episcopal mete- -se mais em política do que a Igreja gostaria, mas não é nestes "aventureiros" que confia. A Ala Liberal, de António Pires de Lima, fechou as portas por falta de clientes. Os conservadores, no seu remanso aristocrático, execram (mesmo quando a elas se resignam) as arruaças radicais e reformistas. O populismo impera, indisputado. Mas o PSD tem Jardim, Santana e até Menezes: não precisa de lições e não teme tais rivais.E o CDS lá se vai afunilando, com um discurso triunfal sobre o bom resultado nos Açores (que ignora a Madeira e sobretudo a catástrofe de Lisboa) a justificar mais um assalto de viela escura, que é surpreender qualquer hipotética oposição interna com uma antecipação mais de 4 meses do seu calendário interno (com um pré-aviso de 15 dias), que obriga a apresentar candidaturas até 7 de Novembro e moções de estratégia até 10. Cego, surdo e mudo, o CDS avança aos tropeções por um corredor cada vez mais estreito e mais escuro. Um dia, Paulo Portas recordará melancolicamente o que foi mandar cada vez mais num partido que era cada vez menos." (Nuno Brederode Santos, ontem no DN)

domingo, 26 de outubro de 2008

Braga


why McCain is losing?

As Steve Hayes notes, back in 2007 the most important issue in picking a president for both Republicans and Democrats were national security related—terrorism for Republicans, Iraq for Democrats. Now only nine percent cite terrorism and seven percent Iraq as their top issue while 57 percent name the economy. This isn’t surprising given recent events but it does make it extremely hard for McCain to breakthrough. His greatest strength as a candidate is national security, something that his war hero biography reinforces. It is the subject on which he is most passionate and knowledgeable. By contrast, McCain used to admit rather too candidly that he didn’t know as much as he should about economics. (Spectator)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

para que é que servem os mandatos?

Paulo Portas decidiu antecipar as directas e o congresso do CDS para o início de Dezembro. Em mandatos de 2 anos, a antecipação de eleições em quase 6 meses revela aquilo em que o partido se tornou: um mero instrumento do seu líder. O CDS é cada vez mais uma pálida imagem do que já foi.

O sobe e desce do Público

“Os sindicatos dos professores não querem, de todo, a avaliação. A maioria da classe não quer, e todo, a avaliação. Mas já é tempo de aceitar que essa é a vontade de um governo democraticamente eleito (…)”. A frase serve de justificação à seta descendente que, associada ao nome de Mário Nogueira, aparece no sobe e desce do Público de hoje.
Quem me conhece sabe o quanto me sinto pouco próxima dos movimentos sindicais e o quanto me situo nos antípodas do pensamento político de Mário Nogueira. Mas não creio que a argumentação proceda, a não ser que advoguemos que a legitimidade formal de uma medida é garante do seu acerto material. Pode, de facto, a avaliação corresponder à vontade de um governo democraticamente eleito – ainda que, em rigor, este não seja fruto directo de eleição –, sem que isso nos ateste do seu mérito.
Este depende antes da possibilidade de, por meio dela, se atingirem eficazmente objectivos que correspondam ao sentido do justo: a discriminação positiva dos melhores profissionais e a valorização da Escola Pública. Ora, no caso concreto, não só se mostram frustrados os objectivos, como o desenho do modelo avaliativo instituído conduz ao esvaziamento da essência do que deve ser a função de um docente.
Não falo já do infindável número de horas gastas em procedimentos burocráticos, em prejuízo do investimento que deve ser feito na preparação das lições e na actualização científica dos conteúdos, sequer das pontuais situações de injustiça relativa a que muitos se vêem votados. Tenho em mente algo mais grave, porquanto ponha em causa a Escola responsável pela formação dos futuros quadros deste país.
É que, se tivermos paciência para passar os olhos pelos documentos que vão sendo elaborados nas Escolas, como guias da aferição da prestação dos docentes, constatamos, rapidamente, que os mesmos, estribados nas orientações emanadas pela tutela, se orientam por critérios eficientistas que buscam o sucesso a todo o custo, ainda que à custa do próprio sucesso, tornando os docentes reféns dos seus discentes.
Ensinar envolve, é certo, a transmissão de conhecimentos, numa actividade transitiva, em que o discente surge como o destinatário privilegiado do trabalho levado a cabo dentro e fora da sala de aula. Conformada como uma tarefa comunicativa, a docência não pode descontar, como é óbvio, o interlocutor de circunstância que, longe de espectador passivo, aparece, numa relação dialógica, como o outro a quem o professor se dirige, concentrando atenção e dedicando esforço. Por isso, a actividade do professor será tanto mais meritória quanto a forma e o modo de fazer chegar um determinado conteúdo ao outro diante dele colocado forem eficazes.
Há, porém, que entender de modo hábil a eficácia a que se alude, pois que, se o resultado potencialmente alcançável não é produto directo da conduta do docente, mas espelho da equação que assume como pólos irredutíveis aquela aliada dialecticamente às capacidades e empenho dos discentes, não se pode macular a questão com a nota da eficiência tecnocrática.
Fazer das notas atribuídas um critério de avaliação torna-se, pois, chocante, seja porque a tarefa que cada professor abraça se projecta na emergência de uma obrigação de meios (o docente deve envidar todos os esforços para ensinar, não podendo garantir o resultado que pretende, porque o mesmo está dependente de uma miríade de variáveis e do contributo directo e incontornável do discente), sendo só complementada por acessórias obrigações de resultado (v.g. o docente tem a obrigação de resultado de dar aulas, de prestar o serviço que lhe é confiado, sendo estas obrigações instrumentais do dito sucesso escolar que se pretende alcançar, embora não o condicionem causalista e deterministicamente), seja porque o interesse directo que passa a ter num acto administrativo em que se consubstancia o processo avaliativo dos discentes pode suscitar um incidente de suspeição ou mesmo de impedimento, nos termos da lei administrativa.
E mais chocante ainda, porque, mesmo que correspondente à vontade de um governo “eleito democraticamente”, é espelho fiel de uma política que, prestando culto à estatística, faz do facilitismo a palavra de ordem.

urnas fechadas? (3)

(...) Murphy is right that McCain can’t try and pick this off state by state, he is trailing by too much to do that successfully. He’s also right that McCain needs to remind voters why he was the most popular politician in America. Oddly enough, the sheer scale of the deficit McCain is facing could help him. In New Hampshire, a lot of undecideds and independents broke to McCain at the last minute as they did not want to see a genuine American hero humiliated. (Spectator)

Eles andem aí...

Uma cara bonita - é elogio e não sexismo - não garante imunidade no que respeita ao disparate.
A Joana Amaral Dias, na Linha da Frente de hoje, na TSF, comenta, com proverbial ignorância ou monumental má fé, o que parece ser a estrela da companhia da proposta de OE 2009: a criação de certos fundos de investimento imobiliário.
Admito que esta iniciativa possa ser susceptível de reparos. Mas ver nestes fundos o papão que a Joana Amaral Dias revelou é manifestamente exagerado. Só na cabeça de pessoas atormentadas poderão os bancos, sobretudo em Portugal, passar por quadrilhas de ladrões sequiosos por expoliarem tudo e todos, sobretudo as famílias mais necessitadas. Ainda que tanto dislate não me espante, vinda da área política onde a instigação do pânico e o alastramento da mentira são há muito técnicas de propaganda, não consegui evitar um sorriso, ao ouvir a defesa tenaz que a senhora fez da propriedade privada, citando, novo e mais vincado sorriso, a Associação Lisbonense de Proprietários.

IPA


Greenspan, esse grande socialista...

He admitted he made a mistake during his time as chair by presuming that lenders were more capable than regulators of protecting their finances, adding he was "shocked" when the system "broke down." (cnn)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

fartar vilanagem

"O Ministério das Finanças garantiu hoje, em declarações à TSF, que o Orçamento de Estado para 2009 em nada altera as regras de financiamento dos partidos, ao contrário do que diz uma notícia avançada hoje pelo “Diário Económico”, onde se lê que o documento prevê o fim dos limites para que os partidos possam receber donativos em dinheiro. Na sequência desta notícia, o PSD prepara-se para pedir esclarecimentos ao Governo."
O Governo enviou para o Parlamento uma rectificação à proposta de Orçamento do Estado para 2009 respeitante à alteração da lei do financiamento dos partidos, repondo a actual redacção do artigo sobre os donativos singulares (...) A proposta de Orçamento do Estado para 2009 alterava este artigo, substituindo "25 salários mínimos mensais" por "25 vezes o valor do indexante dos apoios sociais (IAS)"."

Piroseiras ou infantilidades...?

A moda, a adoração, por esta criatura (será que, por não a tratar pelo nome, alguém me vai chamar de..., de que é que é mesmo, Rui Castro?) sempre me irritou, desde a mais tenra idade.
Não sei se por ser um gato (brrrrr.....) se por ser apenas uma piroseira.
A verdade é que não aguento a Kitty!

Cada vez percebo melhor porquê: é que não aguento exageros!

partido socialista

"Quando se torna público que a Segurança Social já perdeu 200 milhões de euros na sua carteira de investimentos, pareceria normal que o ministro Vieira da Silva explicasse, sentisse mesmo necessidade de explicar, como é que este fundo é gerido, quem decide das aplicações, que decisões foram essas, porque é que 500 milhões de euros foram aplicados no BPN (um banco de vida atribulada...), etc. Quanto mais não fosse para não tornar ridículas as lições de moral sobre o capitalismo e o mercado que o primeiro- -ministro nos prodigou, se o motivo maior - o de este fundo dizer respeito aos descontos e às reformas de cada um de nós - não relevar para o Governo (...)" (Maria José Nogueira Pinto)

urnas fechadas? (2)

Para a estratégia de Osama Bin Laden, parece-me claro que seria preferível ter McCain/Palin como líderes do mundo livre. É, por isso, de esperar que, nos 10 dias que antecedem as eleições, sejam atacados interesses americanos no estrangeiro (dizem os entendidos que a Al-Qaeda não tem neste momento capacidade para perpetrar ataques em solo americano) ou, pelo menos, que surja um qualquer vídeo de Bin Laden com ameaças de novos ataques terroristas nos EUA. Há quem diga que o vídeo de 2004, em vésperas de eleições, foi essencial na vitória de Bush sobre Kerry.

Desentendida? Não!

O Carlos Botelho, que não conheço, mas que vou acompanhando nos seus escritos, é uma pessoa que me merece consideração. E, por isso, não me estava a fazer desentendida. O objectivo era outro: mostrar, através de uma caricatura de um post (que não o dele), como o preconceito poderia, afinal, estar instalado na mente do receptor da mensagem e não do seu emissor.
Mas falemos mais claramente. Independentemente da elegância ou deselegância da formulação do Rui Castro, que aqui não vou debater por me parecer demasiado irrelevante, lembro-me de, ainda há não muito tempo, ler num jornal, da província onde me encontro, que se iria realizar um debate entre dois economistas a propósito da crise financeira que assola o mundo. Não era referido o nome de nenhum deles. Olhando para a notícia, poderei considerá-la tosca, talvez por o relevante factor de captação de audiência ser exactamente a identificação dos interlocutores, mas não a apodarei de desqualificadora, estigmatizante ou bárbara.
E repare-se que a pessoalidade de cada um deles jamais se esgotará na profissão que exercem. Não obstante, não existe ali um mínimo indício de menorização. Nem vozes se ouviram em defesa dos visados.
Por que razão, então, o alarido no caso concreto?
A analogia é quase perfeita. A sexualidade de alguém também não é mais do que uma componente da identidade do ser. Mas foi no papel de homossexual que o Miguel Vieira se apresentou. E foi investido nesse papel que ele apareceu numa rádio. Identificado como tal, não me parece haver intenção de achincalhamento. Ele é mais do que isso? Claro que é. É portador de uma ineliminável dignidade ética pelo facto de ser pessoa. Faltou o nome? Faltou. Mas é o nome factor preponderante? Não, porque ele não compareceu no evento por ser o Miguel Vieira – que eu pessoalmente não faço a mais pálida ideia quem seja – mas por ser homossexual.
É claro que não faz o menor sentido as pessoas apresentarem-se como heterossexuais ou homossexuais. Simplesmente, não é o Rui Castro quem anda a propagandear o orgulho heterossexual. Ao invés, são os activistas gay que fazem da orientação sexual o núcleo central da sua identificação, ao mesmo tempo que desfilam em marchas, paradas e afins. Ao darem-se a conhecer por esse atributo – e não por outro, ou outros –, não podem depois sentir-se discriminados quando individualizados por tal qualificação. Exactamente porque foi ela, e não também outra, que os catapultou – ou, melhor, ao Miguel Vieira – para os palcos de difusão ampla dos media. Tal como os economistas que, só por o serem, foram chamados a comentar o furacão financeiro.
Mais do que isso. Se aceitarmos que as palavras são frias e só ganham conteúdo quando integradas num contexto comunicacional, não se consegue encontrar, excepto pelo perscrutar de intenções, nem sempre sindicáveis, na atitude do Rui qualquer sinal de homofobia. Donde o exercício de substituição da palavra homossexual por deficiente, doente ou coisa denota um preconceito, sim. Mas instalado na cabeça de quem o faz. Ou, em alternativa, uma mania da perseguição que não me parece nada saudável.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

urnas fechadas?

É por demais evidente que, entre comentadores e analistas, restam cada vez menos dúvidas de que Obama será o próximo presidente americano. Estarei, porventura, a ser ingénuo, mas a verdade é que tenho ainda algumas reservas quanto ao resultado. O factor raça não é despiciendo e no dia das eleições pode pesar no subconsciente de muitos. O filme Crash - um dos melhores dos últimos anos - explica porquê. 

Bem-vindo, Manuel!

Sou Homofilofóbico


Sou homossexual.

Não sou nada, mas faz de conta. Estou a tentar imaginar o que sente uma pessoa que nasce com essa inclinação (é preciso cuidado com as palavras, ou o Reverendo Louçã e a Irmã Câncio caem-me em cima, mas «inclinação», acho que é fracturantemente correcto) ou a adquire de forma honesta. Uma pessoa que nasce com essa inclinação ou a adquire de forma honesta, leia-se, versus os que se inclinam para aí para arranjar emprego no Bairro Alto, ou para aparecer no programa da Fátima Lopes. Uma pessoa que nasce com essa inclinação ou a adquire de forma honesta, mas não se sente inclinada a desfilar de lingerie na avenida. Uma pessoa que quer desfrutar dos mesmos direitos civis que os heterossexuais, mas não precisa de lhes copiar as instituições, particularmente o casamento. Uma pessoa que tem a prudência de não reivindicar a adopção de crianças por casais homossexuais. Uma pessoa que não quer passar directamente de minoria discriminada para minoria discriminadora.
Uma pessoa, enfim, que se sente simplesmente inclinada a amar pessoas do mesmo sexo.
Sou, na minha hipótese, um homossexual desses.
E agora que os termos estão bem definidos, vão lamber sabão, fracturantezecos homofílicos da treta. Não quero que me defendam com a mesma agenda política com que defendem os touros de morte, a eutanásia, ou a legalização da erva - leia-se, para corroer os alicerces da sociedade burguesa. Sou maior e vacinado, não tenho nada contra a sociedade burguesa, e não preciso de vocês mais do que as mulheres precisam de feministas (os touros de morte ainda vá que não vá).
E agora, mandem-se mas é todos dum penhasco altito e vão trabalhar.

Aceitam-se propostas de debates....

Erra quem pensa que o preconceito está instalado na mente do Rui Castro. São os olhos que o lêem que se orientam pelo pré-juízo e vêem uma desqualificação onde outros só encontram uma expressão linguística talvez apressada. Para o provar, basta alargar a já extensa lista de exemplos cogitada.
Está aqui um link para um debate que tive com um:
a) Bombeiro;
b) Matemático;
c) Professor universitário;
d) Deputado do PS/ CDS/PSD/PCP/BE
e) Jornalista
f) Padeiro
g) ….

homofobia

A Fernanda Câncio acha que sou homofóbico. O Carlos Botelho, ainda ressentido por outras razões, aproveita a deixa. Um esclarecimento (a quem não me conhece): o homossexual chama-se Miguel Pinto e o debate, por muito que custe à Fernanda Câncio, foi tudo menos homofóbico (a menos que se considere enquanto tal toda e qualquer opinião contrária à defendida pela líder das causas fracturantes). A omissão do nome do Miguel Pinto, que não tinha acontecido aqui, tratou-se de mero lapso. Mais, quem quiser dar-se ao trabalho de ouvir o debate, constata que o Miguel Pinto foi convidado por ser homossexual (o que também resulta do site do radio clube com link para o registo áudio).

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Nem tanto ao mar



Não obstante todo este optimismo que nem fica mal a quem tem ou deveria ter por missão contribuir para o nosso governo, a verdade é que basta analisarmos os títulos de algumas obras que pretendem reflectir mais profundamente sobre Portugal - O Labirinto da Saudade, Tempo de Incerteza, Medo de Existir, por exemplo ­– para compreendermos que a realidade fica muito aquém do voluntarismo governativo.

Afinal, em que ficamos? Quem somos, de facto? A rica, diversa, estável e próspera West Coast of Europe? Ou uma comunidade nacional com dificuldade em traçar o seu rumo e as suas ambições colectivas?

Incompetência ou demagogia?


Esta foi, de acordo com a OCDE, a evolução da taxa de crescimento do PIB em Portugal e na Zona Euro entre 2000 e 2008. Pelo menos desde 2000 que Portugal não cresce acima da Zona Euro, tendo divergido sucessivamente nos últimos 5 anos.
O valor de 2008 é uma estimativa datada de Junho e que, dados os desenvolvimentos da situação económica mundial desde então, foi já corrigido por outras entidades supra-nacionais. O FMI, por exemplo, aponta para um crescimento do PIB em 2008 de 1,3% na Zona Euro e de 0,6% em Portugal (estimativas de Outubro). Mantém-se, portanto, a divergência.
Para 2009 as previsões desta instituição são ainda mais negras: 0,2% para a Zona Euro e 0,1% para Portugal.
Gostava de saber a que bruxa foi o Ministro das Finanças para incluir no Orçamento de Estado para 2009 um crescimento do PIB de 0,6%, que:
  • é superior ao avançado pelo FMI;
  • é igual ao de 2008, ao contrário do que se prevê que aconteça no resto do mundo, onde o crescimento em 2009 será inferior ao de 2008;
  • é superior ao da Zona Euro, indicando que Portugal vai finalmente convergir com esta região.

Wishful thinking, não?

está visto que Cohn-Bendit não conhece o passado de luta anti-fascista de Durão Barroso


O co-presidente dos Verdes no Parlamento Europeu e a figura principal do movimento estudantil parisiense durante o Maio de 68, Daniel Cohn-Bendit, está contra uma recondução à presidência da Comissão Europeia por parte de José Manuel Durão Barroso (Público)

real american

corta-fitas

Que função mais relevante pode ter um presidente da república que não seja vetar politicamente leis que considere profundamente injustas?

no balls

O Presidente da República promulgou hoje a nova Lei do Divórcio, deixando, contudo, um alerta para as situações de "profunda injustiça" a que este regime jurídico irá conduzir na prática, sobretudo para os mais vulneráveis. (Público)

liga dos últimos

"(...) Se vem do tráfico ilegal da droga, da prostituição, da compra e venda de armas, incluindo nucleares, do crime organizado ou das especulações feitas através dos offshores, que têm por detrás deles "respeitáveis" senhores que gerem bancos, seguradoras e grandes empresas, auferem vencimentos multimilionários, prémios e indemnizações e são os mais próximos responsáveis - não os únicos - até agora impunes, da grande crise global e complexa com que nos debatemos (...)"
Este arrazoado é da lavra de Mário Soares, putativo pai da Nação, e pode ser lido aqui na sua totalidade. Sem querer perder muito tempo com quem já desbaratou todo o capital de merecimento, não posso deixar de lamentar o facto de ninguém confrontar este senhor com a gravidade das suas afirmações.

sobre as causas f(r)acturantes

Fica aqui o link para o registo áudio de um debate sobre o casamento gay que tive com Miguel Pinto (*), homossexual, membro da ilga, no passado dia 12/10, no rádio clube português.
* Como já expliquei em texto publicado mais acima, a omissão do nome do Miguel Pinto tratou-se de mero lapso.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A derradeira causa fracturante




Há um limite para o número de causas fracturantes. A taxa actual de uma por legislatura só é possível dado a ditadura ter sido tão parcimoniosa no seu dispêndio como o foi no das preciosas reservas de ouro. E a democracia, estouvada como foi a estoirar as divisas, assim também procedeu com o espólio de causas divisórias laboriosamente amealhado. Toca de gastá-las sem pensar no dia de amanhã, sem cuidar de saber se são ilimitadas em número, ou pelo contrário bem poucas, a exigir prudência e aforro.
Primeiro a interrupção voluntária da gravidez. Depois, o casamento gay, que será oportunamente seguido da adopção de crianças por casais homossexuais. Brevemente, a eutanásia. Nos intervalos, a legalização da cannabis. Temas facturantes, a prometer render votos nas novas camadas demográficas e em toda uma massa popular esclarecida para as novas realidades sociais, senão nos manuais de Marcuse e Sartre, pelo menos nos reality shows de Teresa Guilherme.
Mas - e a seguir? Não é crível que a população portuguesa esteja preparada, nos anos mais próximos pelo menos, para o sexo inter--espécies entre adultos esclarecidos. Ou para a administração de shots de tequilla a menores de 5 anos. Ou para a condução em sentido aleatório. Lá chegaremos, mas não será certamente coisa para os próximos dois ou três anos.
Que fazer então, quando se tem a responsabilidade de fazer singrar um partido trotsquista, ou a ala esquerda de um partido socialista? Que bandeiras agitar? Que novos caminhos de progresso social rasgar?
Há sempre as questões de mercado, mas os líderes da esquerda das causas já perceberam que, à medida que aumenta o nosso rendimento através dos subsídios que laboriosamente extraímos da terra, vamos ficando cada vez menos sensíveis a propostas de distribuição de rendimento. Restam então os temas sociais, tudo aquilo em que o nosso livre arbítrio ainda se encontra abusivamente tutelado pela Igreja, e não nos toca na carteira. Mas, como se disse atrás, vão escasseando.
Há que recorrer então à imaginação, essa propriedade etérea que distingue a riqueza semântica dum contrato de seguro de um antónio josé seguro propriamente dito. Andam por aí causas inauditas, que nos passam porventura debaixo do nariz, disfarçadas de apreciações consensuais, de temas de regime, mas escondem todo um potencial facturante. Ou será que um dia teremos de fechar as poucas causas que nos restem, juntamente com uns quantos genes de lince da Malcata, e gravuras do Coa, numa vitrine com um rótulo de «Quebrar em caso de emergência»?
Não.
Propomos aqui uma verdadeira causa fracturante. É só um exemplo entre muitos que nos escapam à atenção. Comemora-se hoje, segunda-feira, o seu dia nacional. As rádios falaram dela, mas através de médicos e enfermeiros, não de vanguardas iluminadas. Atinge sobretudo o género feminino, o que dá todo um enquadramento de luta pela emancipação, que a estafada queima de soutiens já não alcança. Mas afecta também os idosos, o que permite disputar mercado num grupo-alvo tradicionalmente conservador. Abramos os olhos, camaradas. Quando mais causas não houver, ergamos-nos para defender a última causa fracturante: legalização da osteoporose, já!!

philip glass

Saramago Segundo Nosso Senhor

Enclausurado pela estima que tem de si próprio, o Nobelitado Saramago, enquanto lhe derem tempo de antena, não se fará rogado. Sobre tudo terá uma palavra avisada. Uma reflexão profunda. Um pensamento desassombrado, ainda que assombroso.
Este fim de semana, lá houve quem quisesse saber o que ele pensa sobre um mundo em que mais ninguém vive. Ocorreu-me, então, evocar Rodrigo Emílio, um Poeta português a quem a "Pátria talhou proas, no meu peito".
É pois de Rodrigo Emílio, o poema "Saramago Segundo Nosso Senhor".


Est'ano Senhora trago
Comigo um pesado encargo
Intenção extra e concisa:
A de orar por Saramago
Que coitado bem precisa

Não tivesse Cristo-Rei
Um tão imenso fair-play
E já Irmão Saramago
Agora teria pago
Com juro e língua de palmo
O seu sacrílego salmo...

José Saramago, visto
Ao vivo por Jesus Cristo...
Saramago o escritor
Biografadinho e descrito
Segundo Nosso Senhor:
Havia de ser bonito! ...

O que salva é Cristo-Rei
Ter um tão grande fair-play
Quando não Virgem Maria
Esse Evangelho vermelho
Onde é que já não estaria

Proponho assim, por descargo
- como quem dá a camisa -
Rezarmos por Saramago
Que bem precisa coitado! ...
Mãe dos Céus, Oh se precisa.

terceiro anel

gostar dos outros

Conseguimos eliminar o Penafiel, nos penalties, num alarde técnico-táctico capaz de fazer corar a mãe do Rinus Michel e o pai do Menotti. A compra do sr. Balboa devia ser investigada: ou pelo Ministério Público ou por uma junta psiquiátrica. (Filipe Nunes Vicente)

Pluralismo democrata

A propósito do que se passa aqui, ocorre-me dizer que, no mundo actual, se conjugam simbioticamente as palavras democracia, pluralismo e relativismo. Para se ser democrata tem de se ser pluralista, aceitando tudo e o seu contrário, num relativismo que mais não significa do que a imposição silente da perspectiva dominante, posto, em coerência, não permitir aquele mais do que soluções vazias de conteúdo, por ser qualquer opção entre alternativas específica afirmação de um reducionismo não plural. Donde, o pluralismo é, afinal, expressão de uma axiologia desvaliosa e sobretudo de uma domesticação do pensamento imposta por quem nos faz crer que aqueles que não pensam como nós são inimigos ou, eufemisticamente, pouco recomendáveis.

Nem tanto ao mar

Sem medo de fantasmas mas nunca esquecendo a História deveremos ser capazes de, em simultâneo com a aposta atlântica, desbravar um novo litoral, o mar de oportunidades que é a fronteira com Espanha. É quase esquizofrénica a forma como nos vamos amontoando junto à costa ocidental quando os nossos principais parceiros económicos se encontram a leste. Se já não são precisos castelos na raia para nos defender, precisamos (e muito) de gente. É assustador verificar que, sozinha, a cidade de Badajoz tem mais habitantes do que todo o Distrito de Portalegre!

esta é para o Francisco Mendes da Silva

Much as though I applaud David Cameron’s plan to give struggling small companies a VAT holiday, a rather large obstacle occurs to me. Wouldn’t this be illegal under European Union law? (pergunta daqui)

Então?

Não é sobre poesia? Queres ver que me enganaram? Tinham-me dito que íamos discorrer placidamente sobre as musas e os vates! Que podíamos versejar e prosar sobre os grandes temas da humanidade! Isto não vai ser mais um daqueles blogs chatos sobre política e mais não sei o quê, pois não?

Aviso à navegação

Ao contrário do que possam pensar, este blogue não é sobre poesia.

Amor total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes

Porque os Outros se Mascaram Mas Tu Não


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Génesis

Este mendigo, outrora, era um menino d'oiro,
Teve um Império seu, mas deixou-se roubar.
Hoje não sabe já se é castelhano ou moiro
E vai às praias ver se ainda lhe resta o mar!
António Manuel Couto Viana