quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O desencanto da Universidade

Não sei se os que andam pela Universidade sentem o mesmo que eu, mas encontro abissais diferenças entre a Academia de 1990, ano em que lá entrei como aluno, e a de 2009. Por ser docente universitário, tenho enfrentado estas diferenças com uma mal resolvida incomodidade. A decadência da Universidade é evidente aos meus olhos. E essa evidência oferecem-me as Faculdades de Direito. Os grandes professores, que me espantavam pelo seu enciclopedismo, pela Sabedoria de que se mostravam participantes, foram dando lugar a meros ensinadores, técnicos altamente qualificados mas incapazes de se aventurarem por áreas estranhas às suas cada vez mais reduzidas áreas de intervenção. Muito menos gramáticos do que os seus antecessores, estes ensinadores - dos quais gostaria de me apartar -, como toiros mansos, encostam-se às tábuas das suas exíguas ciências e debitam de cátedra irrelevâncias muitas. Já não há Professores de Direito, para o mundo já só há fiscalistas, penalistas ou constitucionalistas.

E o que dizer de uma professora universitária que nega a sua qualidade de jurista para se assumir como constitucionalista? Foi isto que fez a Dra. Isabel Moreira naquele inefável debate sobre a condição homossexual em Portugal. Não foi lapso nem mero expediente impressivo. Foi a demonstração do que venho de dizer e que há muito venho sentindo. De constitucionalismo sabem os constitucionalistas, mas não lhes peçam que saibam História, que conheçam Literatura ou que falem de Filosofia. Tudo o que esteja para lá do articulado de uma qualquer Constituição é-lhes indiferente para não dizer desconhecido. E para lá de uma Constituição está o Direito. E para lá do Direito está a natureza das coisas.

São estes ensinadores que se comprazem a retalhar a Ciência que deviam servir que me mostram que não há salvação possível. A Universidade, a Academia que me fascina e de que me orgulhava de fazer parte, está perdida. Mas se o Ocidente, no seu todo, está a soçobrar, por que se salvaria a Universidade?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

a revelação, com érre minúsculo

A Dra. Isabel Moreira foi, de longe, a grande revelação da noite. Não tanto pela estridência de uma verve fácil como pela contundência do argumentário. O dedo em riste sinalizava afinal uma autoridade que porventura se não lhe reconhecia. Não é jurista, ficámos a saber. É constitucionalista. A pérola do seu longo rol de bengalas discursivas foi uma interrogação bombástica que terá passado despercebida a todos os que não cultivam a ciência do Direito (o que, infelizmente, não é o meu caso): "natureza das coisas?". Sim, porque para a senhora doutora, o argumento "ex natura rerum", de tão largas tradições, e não apenas jurídicas, não vale coisas nenhuma. Vale nada. "O que é isso da natureza das coisas?". Que desconhece o que seja a natureza das coisas não precisava ela de o confessar expressamente. Mas ignorar o sentido e alcance do argumento não revela apenas presunção ou ignorância. É uma imensa falta de cultura. De cultura jurídica, que mais não seja.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

HA

Por razões profissionais, só agora pude ver o Prós e Contras dedicado, pensava eu, ao casamento homossexual. Digo, entre pessoas do mesmo sexo, já que "homossexual", no contexto matrimonial, é já homofóbico. Percebi (eu não quero passar por estúpido e por isso declaro para os devidos efeitos que percebi tudo, tudo sem execpção, o que disse a Dra. Isabel Moreira, mesmo as passagens ininteligíveis) que ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo (tive cuidado!) é manifestação homofóbica. Acordei agora, então, para esta realidade que desconhecia. Olá, eu sou o Nuno e sou homófobo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Estou curioso...

Pelo que pude ler nos jornais do fim de semana, Santana Lopes já trabalha arduamente na sede da sua candidatura e tem o programa praticamente fechado. Desconheço como andam as negociações entre o CDS e o PSD a este respeito. Mas das duas uma: ou já estava tudo acertado antes da assembleia concelhia de Lisboa do CDS, como sugerem os jornais, ou será escassa, para não dizer nenhuma, a influência do CDS no projecto que Santana irá protagonizar em Lisboa.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Eles andem aí...

O Governo anunciou o aumento da licença parental para 6 meses. Contudo, a lei só permite esse aumento se a licença for partilhada por pai e mãe. E se a mãe ou o pai não puderem – por serem empresários ou profissionais liberais – ter licença? E se forem mães ou pais solteiros? Cheira-me a sacristia. Enquanto os furiosos jacobinos se entretêm a derramar a sua ciência sobre as crédulas criaturas, eis que algum padreca do Conselho de Ministros deixa escapar este monumento à família, dita tradicional.

Não sei, mesmo

Tive pena de não acompanhar a versão porno-soft da vida íntima de Salazar. Mas há que reconhecer que só quem não faça puto ideia da vida pública daquele estadista pode achar digna de nota a vertente mais recatada da sua existência. Ao que parece, terão sugerido que não era homossexual. Não sei, nos dias que correm, se isso é necessariamente elogioso.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

IPA


a crise das senhoras

Hoje, logo pela fresquinha, dirigia-me para uma porta quando reparei numa criatura feminina que, saracoteando os quadris do alto de umas botas seguramente tão desconfortáveis quanto sonoras, atrás de mim vinha. Abri a porta e deixei-a passar, como me foi ensinado. A fêmea passou. Não mugiu nem tugiu. Com esta crise [agora temos de pôr a crise em tudo], pior do que não haver cavalheiros é escassearem as Senhoras.