É que um preto estúpido não é definitivamente igual a um branco inteligente. E um preto inteligente não é definitivamente igual a um branco estúpido. Digo-o, porque o penso, e penso-o desde que, nos meus tempos de Coimbra, passei umas horas a apanhar uma valente seca dum chato dum preto que perorou sobre temas que se me escaparam completamente da memória no tempo que uma ideia leva a entrar por um ouvido e sair por outro. Então porque me dispus à imolação? Porque o tipo era preto. E eu era na altura um branco estúpido, ou, se quiserem, ainda mais estúpido que hoje, que se regia militantemente pela convicção de que a cor da pele importa, sim, excepto se for branca.
Felizmente, deixei-me disso. Os muitos amigos pretos que tive desde então, eram-no porque eram inteligentes, divertidos, interessantes, bons, ou tudo isso ao mesmo tempo. Os outros, os pretos burros, chatos, cinzentos ou maus, mandei-os para o mesmo sítio para onde se deve encaminhar os brancos com esses atributos. O que nunca mais passei foi um cheque em branco. Parece tão simples, mas demorei anos a percebê-lo.
Vem isto tudo a propósito do preto que elegemos para a Casa Branca. Elegemos, elegemos... desculpem-me, mas os jornalistas criaram-me não sei porquê a ilusão de que também votei. O preto que os Americanos elegeram para a Casa Branca, assim é que é, é-me imensamente simpático: acho-o extraordinariamente afirmativo, sedutor, imaginativo, inteligente. Como social-democrata que sou dos quatro costados, e em face da recente pouca-vergonha bolsista, tendo a aprovar as posições em favor de maior regulação de mercados, para citar só um exemplo. E só cito um exemplo, porque não posso concluir muito do pouco que ele disse sobre a sua agenda. Grandes tiradas, já demos. O Kennedy tinha-as, e pelos vistos concretizava-as. Este, espero que também o faça. Mas por enquanto é o mais que posso fazer: esperar.
A minha tendência de voto – cá estou eu outra vez – inclinava-se para McCain. Porque no que me interessa, a política externa, sentia-me um pouco mais seguro tendo um conservador experimentado a falar com o fdp do Irão do que um ingénuo bem-intencionado. Mas incomodou-me consideravelmente a deriva dele relativamente às soluções para a crise, e sobretudo a escolha da Miss Pateta. Ainda bem que não tive de votar.
Feita esta declaração de interesses, estou profundamente convencido de que Obama vai ser um grande Presidente e inaugurar um novo período de esperança nos EUA, logo no mundo. Que vai ser o homem certo para o lugar. Mas isto é uma fé que eu tenho. A única coisa que digo, ao contrário de muitos dos 80% de Europeus que «votaram» Obama, é que só acredito quando vir – preto no branco.
Até lá, uma coisa é certa – demos um grande passo no sentido da extinção da raça racista – aqueles indivíduos tão inseguros que têm medo que um preto lhes roube o emprego.
PS: Que eu saiba, em trinta e tal anos de democracia, o único partido que tem um deputado preto, não por ser preto, mas pelo valor que entenderam achar-lhe, é o CDS-PP. (Apesar de eu próprio não simpatizar com ele, depois daquelas cenas de tabefe no Conselho Nacional.) Não deixa de ser curioso.
4 comentários:
Very well put.
Acho piada um clarinho falar assim de um negro.
«O que nunca mais passei foi um cheque em branco.»
Um cheque em BRANCO???
E porque não um cheque em preto?
Seu racista!!!!
United Colors of Pensilvania Avenue?
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