quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Queria acreditar que os pretos são iguais aos brancos, mas não consigo.



É que um preto estúpido não é definitivamente igual a um branco inteligente. E um preto inteligente não é definitivamente igual a um branco estúpido. Digo-o, porque o penso, e penso-o desde que, nos meus tempos de Coimbra, passei umas horas a apanhar uma valente seca dum chato dum preto que perorou sobre temas que se me escaparam completamente da memória no tempo que uma ideia leva a entrar por um ouvido e sair por outro. Então porque me dispus à imolação? Porque o tipo era preto. E eu era na altura um branco estúpido, ou, se quiserem, ainda mais estúpido que hoje, que se regia militantemente pela convicção de que a cor da pele importa, sim, excepto se for branca.
Felizmente, deixei-me disso. Os muitos amigos pretos que tive desde então, eram-no porque eram inteligentes, divertidos, interessantes, bons, ou tudo isso ao mesmo tempo. Os outros, os pretos burros, chatos, cinzentos ou maus, mandei-os para o mesmo sítio para onde se deve encaminhar os brancos com esses atributos. O que nunca mais passei foi um cheque em branco. Parece tão simples, mas demorei anos a percebê-lo.
Vem isto tudo a propósito do preto que elegemos para a Casa Branca. Elegemos, elegemos... desculpem-me, mas os jornalistas criaram-me não sei porquê a ilusão de que também votei. O preto que os Americanos elegeram para a Casa Branca, assim é que é, é-me imensamente simpático: acho-o extraordinariamente afirmativo, sedutor, imaginativo, inteligente. Como social-democrata que sou dos quatro costados, e em face da recente pouca-vergonha bolsista, tendo a aprovar as posições em favor de maior regulação de mercados, para citar só um exemplo. E só cito um exemplo, porque não posso concluir muito do pouco que ele disse sobre a sua agenda. Grandes tiradas, já demos. O Kennedy tinha-as, e pelos vistos concretizava-as. Este, espero que também o faça. Mas por enquanto é o mais que posso fazer: esperar.
A minha tendência de voto – cá estou eu outra vez – inclinava-se para McCain. Porque no que me interessa, a política externa, sentia-me um pouco mais seguro tendo um conservador experimentado a falar com o fdp do Irão do que um ingénuo bem-intencionado. Mas incomodou-me consideravelmente a deriva dele relativamente às soluções para a crise, e sobretudo a escolha da Miss Pateta. Ainda bem que não tive de votar.
Feita esta declaração de interesses, estou profundamente convencido de que Obama vai ser um grande Presidente e inaugurar um novo período de esperança nos EUA, logo no mundo. Que vai ser o homem certo para o lugar. Mas isto é uma fé que eu tenho. A única coisa que digo, ao contrário de muitos dos 80% de Europeus que «votaram» Obama, é que só acredito quando vir – preto no branco.
Até lá, uma coisa é certa – demos um grande passo no sentido da extinção da raça racista – aqueles indivíduos tão inseguros que têm medo que um preto lhes roube o emprego.

PS: Que eu saiba, em trinta e tal anos de democracia, o único partido que tem um deputado preto, não por ser preto, mas pelo valor que entenderam achar-lhe, é o CDS-PP. (Apesar de eu próprio não simpatizar com ele, depois daquelas cenas de tabefe no Conselho Nacional.) Não deixa de ser curioso.

4 comentários:

Bernardo Tait disse...

Very well put.

Redy Wilson Lima disse...

Acho piada um clarinho falar assim de um negro.

José Luís Malaquias disse...

«O que nunca mais passei foi um cheque em branco.»

Um cheque em BRANCO???

E porque não um cheque em preto?

Seu racista!!!!

Freddy disse...

United Colors of Pensilvania Avenue?