Eu não queria acreditar. O General Loureiro dos Santos, ex-ministro da Defesa, ex-Chefe de estado-Maior do Exército, ex-Vice-Estado Maior General das Forças Armadas, e sempre, sempre comentador televisivo-radiofónico-jornalístico-estratégico, vem alertar-nos em tom sibilino, assim ao jeito de «eu não penso nada assim, mas não sei se os consigo sigurar», para os «disparates» que alguns «jovens militares mais corajosos e intrépidos», embora «menos avisados», podem cometer em face do «desespero» - D-E-S-E-S-P-E-R-O , pois! - da perda de regalias, nomeadamente assistência na doença, face ao resto da função pública, com que não se querem confundir, leia-se juízes. E ainda, numa abordagem que não esconde - ou não fossem a condição militar e a subtileza duas condições incompatíveis - a sua identificação com a causa, acrescenta o generalíssimo, quase franco, mas sem se comprometer em demasia, que podem acontecer, e cito de memória (sigam o link para perceberem que não exagero, ouvindo-o de viva voz), «coisas incompatíveis com uma democracia avançada». Finalmente, e ao longo da manhã, numa sequência que não foi seguramente concertada, digo eu que sou o duende preferido do Pai Natal, aparece mais um general, mais um almirante, mais um sindicalista dos oficiais, mais outro dos sargentos, e mais um dos praças, a corroborar as afirmações do general.
Desespero?!?
Tenha vergonha, Sr. General, e tento na língua. Não ofenda quem está de facto desesperado, e não tem a força das armas por detrás para se fazer ouvir. E se se quiser pronunciar com toda a força dos seus amigos pretorianos, pronuncie-se contra a corrupção, contra o desgoverno deste país, contra os problemas da arraia-miúda, mas não contra a perda de regalias na assistência à doença duma classe que é de facto diferente das outras, mas nem sempre pelos bons motivos, e que goza seguramente de um grande lote de privilégios. Tenha dignidade, que é o que é suposto associar aos militares, e não se chore. Sobretudo, não nos ameace. Use os canais próprios, nem que sejam as suas tribunas na televisão, na rádio e nos jornais. Não ponha na boca de «jovens oficiais corajosos e intrépidos» - ah, repito, como o Sr. General é incapaz de subtilezas de discurso - o que lhe apetece dizer. Isto, apesar de tudo, apesar da podridão campeante, é uma democracia, onde quem tem uma fisga não tem mais voz do que quem está de mãos vazias. Tenha juízo. E não diga disparates.
6 comentários:
Eu também fiquei pasmado: é já para amanhã a revolução? :-) Bora aí para a rua?!!!
Mas Jorge, não te esqueças que o cemitério está cheio de regimes vitalícios.
Dá-lhes com força!
A minha alma está parva. Está tudo doido?
Se esses tais oficiais são assim tão corajosos e intrépidos, porque é que se escondem por trás das fraldas de um velho que já não corre o risco de ser disciplinado?
Ponham o nariz de fora e aceitem a correspondente disciplinarização, se são assim tão corajosos.
Só um reparo ao que o Jorge disse no "leia-se juízes". É que os juízes serão os únicos que continuarão a ter um regime especial na doença, como em tudo o mais. Nessa corporação, ainda não há muita coragem para se mexer. Só por lhes tirarem as férias judiciais, foi o que se viu.
Caro Zé Luís,
(long time no see)
2 precisões. Os juízes não têm regime especial de doença e o facto de terem reduzido as férias judiciais (ou mesmo se as suprimirem) em nada afecta os juízes. Os únicos prejudicados com a redução das férias judiciais são os particulares e os advogados que os defendem. Os juízes apenas se insurgiram pelo modo ignóbil como foram tratados pelo governo, que atirou nuvens de fumo para a população, fazendo deliberadamente que esta confundisse férias dos juízes com férias judiciais. Ora uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Abraços
Muito bem! Estamos fartos destes militares com resquícios revolucionários fora de contexto. E este é, seguramente, um deles.
Coitado do Marcelo RS do Exército... Para quando a sua receita de Moamba na Praça da Alegria?
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