quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Confusão de Sentimentos


Mário amava Mariana. Mariana Pinto de Almeida. Não confundir com Mariana Pinto de Chaves. Mariana Pinto era tanto de Almeida como os pais, que eram de Coimbra, e nunca tinham ido a Almeida, embora quase, de uma vez que foram para Espanha por Vilar Formoso, e também eram Pinto de Almeida como a filha. Já Mariana Pinto era de Chaves, tal como os pais, que também eram só Pinto como a filha, e viviam em Chaves, como ela própria, enquanto vivera com os pais, antes de ir estudar para Coimbra.
Mariana Pinto de Almeida e Mariana Pinto de Chaves ocupavam lugares inversos no coração de Mário e na sua lista de endereços de telemóvel, contíguos mas sucessivos. Primeiro Mariana Pinto, logo seguida de Mariana Pinto, primeiro a de Almeida, logo seguida da de Chaves. No telemóvel, porque no coração de Mário vinha primeiro Mariana Pinto e só depois Mariana Pinto, a de Chaves antes, e só depois a de Almeida. Mário mandava longos sms apaixonados a Mariana – Pinto – , que a operadora invariavelmente perguntava se podia enviar em duas partes, às vezes três, onde se abria sem defesas perante a que dizia ser senhora do seu coração. Proclamava-lhe com todas as liberdades permitidas pela língua portuguesa e o teclado do Nokia, que eram poucas para amor tão avassalador, o quanto a achava incomparável, incomparando-a a auroras, eternidades, ideais, oásis e universos. Mário sofria, porque Mariana não respondia. Mariana não respondia, porque, posto que se lhe incendiasse a alma com as palavras inflamadas de paixão de Mário, julgava na sua insegurança que só poderia haver engano. Que teria forçosamente de haver outra mais preparada pela Natureza para princesa de tal príncipe, nascida desde antes de concebida para corresponder a tal amor. Outra melhor que ela. Outra mais digna do único que considerava digno do seu amor. E não respondia. Quanto a Mariana, não respondia, pois, não obstante suspeitar por pequenos sinais que não fosse indiferente a Mário, este não se dignava enviar-lhe um sms que fosse, onde, ainda que não brilhasse no estilo, lhe confirmasse na substância que a desejava, e quanto.
Claro que também não ajudava em semelhante imbróglio que Mário, a arder por Mariana Pinto de Chaves, a primeira do seu coração, digitasse impaciente, imparável, impetuoso, imbecil, no cabeçalho da sms o nome de Mariana Pinto de Almeida, a primeira no seu telemóvel.

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