terça-feira, 4 de novembro de 2008
eu gostava de ter escrito isto
"(...) Ler sobre Barack Obama nos jornais é uma coisa. Ouvi-lo discursar em directo é outra muito diferente. E eu jamais esquecerei a sensação de deslumbramento com que o escutei pela primeira vez na madrugada de 4 de Janeiro de 2008. Lembro-me de ter pensado "uau, mas quem é este tipo?", e num arroubo de romantismo político (coisa que nunca pensei existir) ir buscar a minha mulher para partilhar comigo aquele momento. Quatro dias depois publicava no DN um texto intitulado "Convém fixar uma nova palavra: obamamania", que começava assim: "Se no mundo desencantado em que vivemos ainda houver espaço para acreditar em homens providenciais, então eu quero acreditar neste." E de seguida apostava na sua vitória nas primárias de New Hampshire - uma asneira de todo o tamanho, já que as famosas lágrimas de Hillary Clinton acabaram por o derrotar. Ainda assim, foi sua a festa. O seu discurso no New Hampshire, depois condensado no vídeo de will.i.am e Jesse Dylan Yes We Can - que ainda hoje me maravilha quando o vejo -, é certamente um dos mais espantosos discursos de derrota dos tempos modernos.
Eu sei que no mundo em que vivemos, e nos jornais em que escrevemos, estas palavras parecem ingénuas. Sei também que dificilmente Obama estará à altura das expectativas que criou para si próprio. Não importa. Não o vejo - nem nunca o vi - como um Messias que revolucionará a forma de fazer política. Isso não existe. Mas é de facto um enorme prazer, ao fim de 35 anos de vida, pela primeira vez olhar para um político e poder dizer: "Eu realmente acredito neste homem." Não por ser imune ao erro, ou sequer concordar com 100% do que ele diz, mas por ter todas as condições de carácter para, em cada momento, poder decidir da melhor maneira. Que ele seja negro e se chame Barack Hussein Obama apenas demonstra que o sonho americano continua vivo. E só quem tiver perdido toda a esperança pode não encontrar aí algum conforto." (João Miguel Tavares)
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