quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sou Homofilofóbico


Sou homossexual.

Não sou nada, mas faz de conta. Estou a tentar imaginar o que sente uma pessoa que nasce com essa inclinação (é preciso cuidado com as palavras, ou o Reverendo Louçã e a Irmã Câncio caem-me em cima, mas «inclinação», acho que é fracturantemente correcto) ou a adquire de forma honesta. Uma pessoa que nasce com essa inclinação ou a adquire de forma honesta, leia-se, versus os que se inclinam para aí para arranjar emprego no Bairro Alto, ou para aparecer no programa da Fátima Lopes. Uma pessoa que nasce com essa inclinação ou a adquire de forma honesta, mas não se sente inclinada a desfilar de lingerie na avenida. Uma pessoa que quer desfrutar dos mesmos direitos civis que os heterossexuais, mas não precisa de lhes copiar as instituições, particularmente o casamento. Uma pessoa que tem a prudência de não reivindicar a adopção de crianças por casais homossexuais. Uma pessoa que não quer passar directamente de minoria discriminada para minoria discriminadora.
Uma pessoa, enfim, que se sente simplesmente inclinada a amar pessoas do mesmo sexo.
Sou, na minha hipótese, um homossexual desses.
E agora que os termos estão bem definidos, vão lamber sabão, fracturantezecos homofílicos da treta. Não quero que me defendam com a mesma agenda política com que defendem os touros de morte, a eutanásia, ou a legalização da erva - leia-se, para corroer os alicerces da sociedade burguesa. Sou maior e vacinado, não tenho nada contra a sociedade burguesa, e não preciso de vocês mais do que as mulheres precisam de feministas (os touros de morte ainda vá que não vá).
E agora, mandem-se mas é todos dum penhasco altito e vão trabalhar.

7 comentários:

José Luís Malaquias disse...

Estás mesmo a ver o Reverendo Louçã e a Irmã Câncio a defender Touros de Morte????
Que erva é que TU andas a fumar?
ZL

Jorge Ferreira Lima disse...

a defender os touros de morte da morte, sim...

lb disse...

«Uma pessoa que quer desfrutar dos mesmos direitos civis que os heterossexuais, mas não precisa de lhes copiar as instituições, particularmente o casamento.»

Aí está uma contradição: um casal homossexual que não pode casar, não desfruta dos mesmos direitos civis, de uma maneira muito material: em termos de partiha de propriedade, de herança, de assistência em caso de doença e de muitos outros.

Jorge Ferreira Lima disse...

Caro(a) Lutz

Inteiramente de acordo relativamente aos direitos que cita, e outros deveriam eventualmente ser consagrados para assegurar a tal igualdade à luz da lei.

Estes, em todo o caso, já estão assegurados na lei das uniões de facto. O casamento pode e deve ser deixado de fora, excepto se se pretender utilizá-lo iconicamente, para marcar bem a vitória de teses radicais.

Lá está. Estou convencido de que muitos homossexuais não se sentem representados por estes seus «defensores» radicais, com as suas agendas ocultas.

disse...

Sempre me fez confusão, haver esta gente que decide coisas absolutamente sem importância nenhuma para a sociedade. Qual é a legitimidade para ir contra uma enorme maioria em favor de uma pequena minoria? Porque é que eles decidem contra a minha vontade???
Qual o real poder deste Bloco da treta que com apenas 2 deputados faz tanto estrago???
Tenho tanta pena deste meu Portugal.
A rapaziada que é contra os toiros foi a mesma que votou a favor do aborto. Tristes prioridades, tristes confusões mentais, deve ter a ver com os "joints".
No fundo é como dizes, se eles tivessem um trabalho já andavam ocupados e não pensavam nestas porcarias.
Jorge dá-lhes!

clAud disse...

confesso que não me encanta a escolha da palavra "inclinação"... mas o jorge lá saberá porque a escolheu e é bem verdade que me ocorreriam muitas outras bem piores.

mas jorge, fosse qual fosse a palavra escolhida, o exercício falha e falha rotundamente, quanto mais não fosse porque em nenhum momento o jorge experimentou a empatia que o exercío exige.

o jorge diz "sou homossexual" (ressalva, não vá o diabo tecê-las e alguém tomá-lo por outra coisa que não aquilo que é, faz de conta). e este pressuposto exigia que o jorge, por um momento, fosse mesmo.

esta coisa da empatia é, já se sabe, extraordinariamente difícil, porque a gente acha que está lá, a gente diz "vá, agora faz de conta que eu sou o outro" e já está.

e atenção, porque mesmo assim, o jorge faz questão de ser um homossexual digno. entenda-se, daqueles que não desfilam em lingerie (porque o pride, todos sabemos, são desfiles de despudorados em lingerie). naturalmente, o jorge não diz, mas já percebe que será também frugal quanto a manifestações de afecto em público.
o jorge, é um homossexual que tem prudência em não reivindicar a adopção por outros homossexuais (eu tenho umas ideias quanto a homossexuais prudentes neste campo e são mais ou mesmo as ideias que tenho quanto a heterossexuais com os mesmos pruridos, pois que seja).
um homossexual desses, jorge, tenho cá a impressão, que se dispensa a inclusão da agenda política dos da eutanásia e afins, também dispensará a inclusão da agenda dos heterossexuais dignos como o jorge.

e já agora, essa convicção de que as mulheres não precisam de feministas... vamos lá a ver, o jorge acha mesmo que sem sufragistas o direito de voto teria sido reconhecido às mulheres quando foi?

just one last thing e prometo que vou embora, há-de, não tem de ser já, quando lhe der jeito, dar-me essa receita de omoletes sem ovos, que já ouvi dizer ser muito boa para o colesterol.
(não leve mal, sou um bocado parva ;))

Jorge Ferreira Lima disse...

Cara Claud:
Claro que a empatia é a coisa mais difícil do mundo. Claro que a solução para os problemas não é varrer para debaixo do tapete, como se fez demasiado tempo, mas também não é impor à maioria soluções radicais minoritárias. E casar não afecta apenas duas pessoas, ao contrário do que se quer fazer querer. Especialmente quando se fala em adopção. Apontar as falhas dos heterossexuais por comparação também não me parece metodologicamente correcto. Claro que é muito subjectivo definir dignidade, embora o pride esteja para mim num extremo que não me levanta grandes dúvidas. Claro que é difícil definir quando uma luta faz o mundo melhorar, como é foi quanto a mim o caso das sufragettes, e quando se radicaliza, como é o caso da tal queima de soutiens. O que lhe posso dizer, dito isto tudo, é que se fosse homossexual, não me sentiria bem representado pelos que representam os homossexuais na praça pública. Agora, sobretudo, o meu post insurge-se contra quem utiliza o tema para, simplesmente, fracturar a sociedade, para de seguida erguer dos escombros o seu admirável mundo novo.
Obrigado, e vá aaparecendo.